Usando o FLASH DEDICADO, parte 3: O Número-Guia!

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Muitos fotógrafos ainda consideram o correto uso do flash como um grande desafio, principalmente no Modo Manual. No TTL a coisa fica mais fácil, meio "point and shoot", porém longe do controle criativo pleno. Concordo que estas pequenas caixinhas trazem muitos recursos e truques escondidos, mas exigem do fotógrafo uma dose extra de estudo e alguns cálulos, para o desespero daqueles que "mataram algumas aulas" na escola.

Para ajudar um pouco a desvendar estes segredos, trago aqui uma pequena parte da apostila que montei para a 3a. edição da oficina OS SEGREDOS DO FLASH DEDICADO (outubro/2016). Extraí duas das suas quase 70 páginas para expor aqui o básico sobre um dos principais temas, o "Número-Guia". O assunto é técnico, como tudo que se relaciona ao uso de iluminação artificial, mas não é tão difícil de ser compreendido.

A potência de um flash

Há vários modelos de flashes no mercado, dos mais diversos tamanhos, para várias necessidades. Seus circuitos, lâmpadas e refletores não são iguais, e por isso, a potência luminosa também difere bastante. Para que possamos ter um parâmetro de distinção entre os modelos e uma referência para ajustes da potência em Modo Manual, adota-se um termo chamado NÚMERO-GUIA (NG), ou GUIDE-NUMBER (GN).

O uso do flash no Modo Manual, ao contrário do TTL, dá ao fotógrafo plena liberdade criativa por permitir um ajuste de luz personalizado. O TTL é prático e funcional com sua automação padronizada, mas no final não passa disso: é uma automação padronizada, e a criatividade não combina muito com isso. Porém, no Modo Manual, precisamos de ferramentas para manter total controle sobre essa luz. É aí que entra o NG.

Bem, o NG é um índice que corresponde ao alcance da luz que um modelo de flash possui, dentro de certas condições: Distância, ISO, diafragma e distância focal do flash ("Head Zoom"). Cada flash possui seu próprio NG, que está ligado à sua potência efetiva, e este número é a chave para entender a fotografia com flash no modo manual. O valor do NG sempre está presente nos documentos técnicos de qualquer flash. Este é um conceito básico da fotografia, e seu entendimento abre caminhos para uma melhor utilização de luz artificial em suas fotos.

Como o NG é calculado

Na fábrica são feitos testes que medem a luz emitida pelo flash em uma determinada distância focal (O “zoom” do flash, não das lentes) e o resultado da sua captação. A distância em que essa luz contém qualidade suficiente para sensibilização (sob certas regras) fica determinada como seu Número-Guia. Para complicar, cada fábrica adota padrões diferentes para estas regras, mas o NG resultante sempre é efetivo e confiável.

Exemplo:
O manual do flash Nikon SB-910 informa o seu NG desta forma:

34m/111.5f, ISO 100,35mm


  • O primeiro número (34m) corresponde ao seu NG em metros.
  • O segundo número (111.5f) corresponde ao seu NG em pés (para converter metros em pés, divida o valor por 0.3).
  • O ISO corresponde à sensibilidade em que sua luz foi medida.
  • O último valor (35mm) corresponde à posição do "zoom" do flash no momento da medição. Alguns fabricantes podem usar outras medidas, sendo as mais comuns 28mm, 35mm, 50mm ou 105mm.
  • Importante: o NG é calculado na fábrica com o flash em sua potência total (1/1).

Com estes números podemos calcular com muita exatidão os ajustes da câmera e do flash, sem erros. Com eles e usando as compensações de luz (aquele princípiozinho básico da fotografia, a Lei da Reciprocidade), podemos chegar a qualquer condição de ajuste e iluminação. A criatividade é o limite.

O NG na prática

O NG nos dá um valor de referência para o cálculo da exposição correta. Com ele podemos descobrir qual o diafragma utilizar, qual a distância correta, a potência, etc.

Para calcular o diafragma (ou "f-stop"), usamos esta fórmula:

Diafragma = NG / Distância


Para calcular a distância correta, usamos esta fórmula:

Distância = NG / Diafragma


Exemplo
Vamos considerar que estamos à distância de 6 metros do modelo, e vamos usar o flash Nikon SB-910. Segundo o manual, este flash possui o NG 34(m) em ISO 100 e zoom a 35mm. Qual seria o valor correto do diafragma para estas condições? Simples:
Diafragma = Número-guia ÷ Distância

Ou

X = 34 ÷ 6

X = 5.6


Pronto! f/5.6 será o diafragma correto para uma foto à distância de 6 metros, em ISO 100 e com o zoom deste flash (Nikon SB-910) posicionado em 35mm .

Mas calma aí!!! Falta um valor, o tempo de obturação! Como chegar nele? Também é simples. Use como ponto de partida a velocidade de sincronismo da sua câmera, que está informada no manual. Este será um “valor inicial” a ser utilizado sempre que você efetuar os ajustes da câmera através do NG do flash. O tempo de obturação pode ser usado para alterar a captura da luz ambiente, não influenciando na luz do flash. Se desejar, você pode simplificar este processo usando o fotômetro da própria câmera para definir o tempo de obturação, medindo o ambiente em modo Matricial (Nikon) ou Avaliativo (Canon). Fique atento apenas ao limite imposto pela velocidade de sincronismo da sua cãmera, pois os flashes não funcionam corretamente a tempos mais rápidos sem o auxílio de recursos especiais.

Neste exemplo, digamos que sua câmera possua um tempo de sincronismo de 1/250s. Então, os ajustes finais seriam:

Na câmera: f/5.6, 1/250s, ISO 100

No flash: Potência máxima e "zoom" em 35mm.



Para deixar a luz-ambiente mais clara ou escura, atue sobre o tempo de obturação, até o limite da velocidade de sincronismo. Isso não influenciará na luz do flash.

Finalizando!

Os manuais dos flashes costumam trazer várias tabelas de NG com várias situações distintas, vale a pena dar uma conferida no seu. Conhecer as características do equipamento é fundamental.

E isso é importante: Precisamos sempre considerar que o cálculo do NG é definido com flash na potência máxima. Todos os flashes atuais permitem o ajuste da sua potência, e isso é importante para chegar à luz desejada. Na verdade, só usamos o flash em sua máxima potência em situações muito distintas. Trabalhar com menor potência traz três vantagens:

  • Um consumo bem menor das baterias;
  • Menor desgaste da lâmpada;
  • Menor aquecimento do equipamento, evitando que o flash "queime" ou fique bloqueado pelo sistema de proteção a altas temperaturas (fusível térmico).

Ao dominar os cálculos do NG, o uso do flash no Modo Manual começa a ser desvendado. Isso é apenas a ponta do iceberg, pois há vários outros parâmetros que influenciam a fotografia com luz artificial:

  • Distância entre flash e motivo
  • Uso de modificadores de luz
  • Posição do Head Zoom
  • Tipo de baterias
  • Luz ambiente
  • Temperatura da luz
  • Reflexões e dispersões da luz
  • Regras básicas da fotografia, como a "Lei da Reciprocidade"
  • Etc, etc, etc...

Mas estes são assuntos para outros artigos. Ou para uma próxima edição da oficina profisional OS SEGREDOS DO FLASH DEDICADO, certo?

Muito bem, é isso! Com este texto eu fecho a série de artigos sobre flashes dedicados! Espero que tenham sido úteis! Paz e boas fotos!

Hudson Malta


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